Olá pessoal, espero que estejam bem! Antes de tudo, avisar que o podcast retoma no dia 27 de Março! E hoje trago uma proposta diferente de newsletter pra vocês. Resolvi trazer com mais detalhe a história do podcast .E ele será dividido em 3 atos. A primeira trazendo o nascimento dele e seus primeiros passos, na segunda as parcerias e os desdobramentos e os tantos não que recebi, como também o surgimento da comunidade, e por último, o momento atual e toda nova mudança e novidades que o Viajante sem Pauta passa.
Ato 1
Pensei por dias em como queria que este texto soasse. E, mais do que isso, para quem ele seria. Você pode estar se perguntando: "Não é óbvio? Para a audiência, claro, e principalmente para os assinantes que apoiam." Sim, é verdade. Mas, no fundo, esta substack é para quem se sente perdido, desamparado ou desacreditado naquilo que faz. Aqui, entro num espaço mais íntimo, mais autoral—quase como abrir um diário da história do podcast Viajante sem Pauta. Então a news não será alguma história do livro que venho escrito ou mesmo informativos, será a jornada do programa.
Mas por que falar sobre o processo do podcast com mais detalhes? Bom, recentemente, a campanha do programa no Catarse — que existe para tentar tornar esse projeto sustentável com o apoio da audiência, bateu a marca de três mil reais. Esse número, para mim, não é só um valor. Ele é simbólico. Fez com que eu voltasse no tempo, revisitando a trajetória que me trouxe até aqui e me lembrando por que ainda amo o que faço.
A campanha começou em abril de 2021. Quatro anos. Quatro anos para chegar até aqui. Se você me acompanha, já deve ter me ouvido falar sobre as vezes em que pensei em desistir. O Viajante Sem Pauta foi ao ar pela primeira vez em 2019. Seis anos de programa. Hoje, quero traçar todo passo a passo, e assim humanizar os bastidores que quase ninguém vê.
O porque:
Sempre fui ouvinte de podcast. E antes mesmo de embarcar na viagem pelas terras africanas, eu já ouvia a mídia desde 2006! E quando fiz meu mochilão, comecei a procurar os de viagem. Estes eram poucos na época. E destes que existiam, nenhum falava sobre os temas que eu queria ouvir. Então pensei comigo mesmo: se não tem, vou criar essas conversas.
A ideia do podcast já me batia quando estava no Malawi. Mas eu não tinha os equipamentos, até porque em teoria eu deveria ter voltado do meu intercâmbio e estar em terras brasileiras. Foi então que soube que um dos meus melhores amigos viria ao meu encontro na Tanzânia, o Cleber. Claro, praticamente explorei o meu amigo pedindo tudo quanto coisa. Uma lista do que ele trouxe em prol da minha saudade:
Muitos pacotes de faroka Yoki - aquelas bem quimicas
Paçocas
Furakaki, um tempero japones
Vários discos de frisbee cedidos pelo time que joguei, para entregar em projetos e eu ter alguns pra jogar
Equipamentos e coisas para começar a gravar.
Já tinha formação em jornalismo, locução e radialismo. Na teoria, tudo estava a meu favor. Mas, na prática, era outra história. Comecei a maratonar tudo sobre criação de podcasts: artigos, vídeos, outros podcasts sobre o assunto. Não sabia como gravar, muito menos editar. Tinha mais dúvidas do que certezas. Onde conseguir as músicas? Qual editor usar? Como seria o formato?

Passei meses tentando achar uma forma eficiente de fazer isso durante a viagem. Os desafios eram lidar com uma internet ruim. O custo também, visto que na grande maioria era pacotes móveis. O barulho, e também um local próximo do confortável para gravar. E aqui vale lembrar: estamos falando de 2017. As ferramentas para gravação eram outra realidade.
Dados os desafios, gravei o primeiro episódio com um amigo virtual da época chamado Landis. Ele era o único viajante do meu círculo com quem eu conversava e, melhor ainda, alguém que eu cogitei ter uma boa dinâmica para as conversas. E aqui vai um adicional: muitos anos depois, de maneira despretensiosa, esbarrei com um tweet dele, sem ao menos segui-lo, pois nas buscas por palavra-chave, tenho #podcast de viagem, e então me deparei com esse tweet.
A prova que um podcast existiu nas datas anteriores.
As gravações
Já com o mínimo de habilidade para gravar remotamente, eu e Landis chegamos a registrar uns cinco episódios. Se você, ouvinte, se lembra do primeiro programa, aquele em que eu anunciava onde estava no momento da gravação junto com o Richard. No caso, era o Sudão, mas pode-se dizer que o Viajante Sem Pauta nasceu, de fato, em Uganda. Mais precisamente, numa cafeteria. Porque eu precisava de um Wi-Fi e também não queria estar na casa do projeto onde fazia uma troca de trabalho.
E assim o programa tomou forma.
Até esse momento, eu só tinha as gravações. A edição? Ficaria para depois. Ou melhor, eu aprenderia quando estivesse em um contexto mais tranquilo para isso. Tudo ia correndo bem. Havia aprendido a gravar no que meu conhecimento a época permitia, fazia as pautas, até o dia em que fui furtado. Lá se foi meu notebook. Os gravadores. Todos os episódios.
Fiz um stories na flor da emoção. Não tinha ninguém, somente a rede social de quem me acompanhava. Eu apenas queria por pra fora todas as minhas dores. E acabou ficando registrado no stories esse momento de dor e choro.
E com tudo isso, foi se a minha vontade de fazer um podcast.
O renascimento
Meses se passaram, e, com o emocional restaurado depois do abalo do ocorrido, comecei a reorganizar meus passos. Nesse meio tempo, o podcast havia se tornado apenas uma lembrança nostálgica de um projeto que não seguiu em frente. Paralelamente, eu escrevia no meu extinto blog Norteando ao Sul, onde compartilhava relatos e reflexões que surgiam ao longo das viagens. Identidade da logo, essa que meu pai fez para mim e deixo um registro do seu processo.




A rede de apoio
Devido ao incidente do furto que me ocorreu em Uganda, houve uma mobilização na internet para me ajudarem em uma vakinha. Mais precisamente amigos e pessoas que estavam me acompanhando pelas redes sociais. Permitindo que eu comprasse um notebook. Foi aí que comecei a conhecer e me conectar com outras pessoas na internet. Minha porta de entrada foi Babi Cady — nos conectamos virtualmente através de um projeto no Zimbábue, que foi o Mpsi - link do trecho de uma parte do livro que venho escrevendo.


Por meio dela, conheci Richard De Oliveira, que, futuramente, viria a se tornar meu parceiro de bancada. Mas calma, chegaremos lá.
O pouco equipamento
A viagem seguiu, e muito do que eu partilhava ficou restrito aos stories. Até porque eu estava sem notebook. Mesmo com a arrecadação do dinheiro, encontrar um notebook que atendesse aos padrões mínimos que eu buscava era uma tarefa árdua pelas regiões por onde passava. No fim, acabei comprando um netbook — sim, aqueles que foram febre por um tempo. Este foi adquirido no Sudão, até então tudo estava sendo feito pelo celular ou de notbook emprestado pra subir no blog. Acabei comprando porque queria apenas escrever, nada mais, e principalmente transcrever tudo o que tinha feito no meu diário.
O contato
Durante a jornada, troquei mensagens com outros viajantes que também estavam na estrada na época. Richard era um deles. Em uma de suas postagens nos stories, ele perguntou se alguém tinha interesse em podcast ou algo relacionado. Não me lembro exatamente o que ele postou. Sei que entrei em contato e fiz a proposta: vamos gravar? Talvez, naquele momento de desilusão, eu precisasse que alguém acreditasse no projeto ainda mais do que eu. E Richard estava nesse estado.
O começo do Mochileiros sem Pauta.
Aqui é onde a maioria de vocês conhecem o inicio da jornada. Quando eu e ele gravamos o primeiro episódio que foi ao ar. O tema era fronteiras na estrada, pois era algo que ambos estávamos vivendo, enquanto ele pela américa central, e eu no continente africano.
E aqui uma curiosidade: eu e Richard nunca tínhamos falado por chamada em áudio antes. Somente por textos ou raramente uns áudios pelo whats. E claro, eu tinha um bloco de notas com pautas rs. Desde do primórdio, o lado jornalístico nunca se fez ausente. Eram rasuras e tópicos, mas tinha algo escrito.
E, sucessivamente, começamos a gravar outros episódios. Fazíamos pelo Skype, somente em áudio! Durante anos, as gravações eram apenas auditivas, sem ver a cara de ninguém. A escolha desse método foi por praticidade. Como a maioria da bancada com quem gravávamos também estava viajando, usar vídeo consumiria muitos dados de internet, e, na maioria das vezes, usávamos o pacote de dados do celular. Então, para não gastar muito, usávamos apenas o áudio. E acredite: foram dois anos fazendo isso sem imagem, o que fazia com que, muitas vezes, a gente se cortasse, pois não tínhamos o referencial visual. Editar esses programas eram muito mais trabalhosos.
O nome inicial
De forma sucinta, o nome Mochileiros sem Pauta surgiu enquanto gravávamos o segundo episódio, sobre ônibus na estrada. Ao final da gravação, ainda não tínhamos um nome. Então, de forma despretensiosa, eu soltei: 'Mas isso aqui tá parecendo... mochileiros sem pauta.'
Não deu outra: o nome pegou. De fato, éramos mochileiros, e o 'sem pauta' remetia à essência desse estilo de viagem, quase como se permitíssemos que a estrada nos guiasse. No futuro, o nome viria a mudar , mas isso deixarei para a segunda parte da história do podcast.


A segunda imagem, com o carrinho, tem a arte feita pelo ilustrador Guto Arrigoni. Mas, brevemente, chegarei ao momento em que ele se conecta ao podcast.
Os episódios iam sendo armazenados, mas nada de subir ao ar. Ninguém editava, até porque estávamos focados em nossas viagens, o que demandava uma grande dose de energia. E, claro, eu não tinha um notebook. Aquele que comprei no Sudão demorava 20 minutos para ligar, então já dá para entender, certo?
A edição
Com os programas gravados e as conexões sendo feitas, faltava editar. Como eu faria isso? Bem, na época, entrei em contato com alguém próximo a época com quem trabalhava em estúdio e perguntei se era possível editar de forma básica, com algumas trilhas. Ele topou. O resultado? Nada me agradou. Usou de músicas eletrônicas e não era minha cara. Todavia sou grato a este, pois fez na camaradagem e deixou claro o que eu não queria que fosse.
E aí voltei ao início da recorrente frase: vai lá e faz.
Comecei a aprender na marra o universo da edição pelo celular! Pois sem notebook. Não sabia literalmente nada — como cortar, ajustar o nível de áudio, entre tantas ferramentas. E, para ser sincero, ainda não sei muita coisa. E eu editava ouvindo as conversas e marcando os segundos pra saber quando cortar, descer e subir trilha e relacionados. Foram 3 episódios editados assim, e perceber que doía meus dedos e ficava inviável.


As gravações
À medida que a viagem ia acontecendo, aos poucos, quando eu e Richard podíamos, gravávamos o programa. A primeira gravação foi feita quando eu estava no Sudão, como muitos sabem. E assim seguimos, gravando em diferentes países: Etiópia, Egito, Portugal e assim por diante. É importante contextualizar que tudo era um hobby. Claro que visávamos ganhar dinheiro, mas isso estava muito distante de qualquer realidade ou pensamento naquela época.
Gravar na estrada, hoje relembrando, era um desafio e tanto, especialmente quando comparado à comodidade que tenho atualmente. Hoje, conto com boa Wi-Fi, ventilação, silêncio e riscos de imprevistos reduzidos. Já gravar no continente africano era sempre complicado: dor nas costas, pois 90% do tempo eu estava sentado no chão, e muito calor. Eu saía praticamente pingando de cada gravação. Ventilador? O barulho na edição não me permitia esse luxo.
Nesse tempo de podcast onde estava na estrada, já gravei com galinhas em volta - a prova disso é o episódio de Viajantes em casal. Já gravei em banheiro, dentro de carro pela acústica, e tantos outros cenários, que a gente relembra com gosto de que foi possível e lá e fez.
Melhoria do setup
O podcast Mochileiros sem Pauta (antigo nome) ganhava proporções maiores. Pelo feedback, a galera estava curtindo, e aquilo começou a brotar a visão de que, no futuro, poderia ser algo rentável. Como grande parte dos viajantes, sem saber o que faria no retorno, eu esboçava a ideia de que o podcast poderia ser uma opção. Mas era apenas isso: uma ideia, ainda no campo das possibilidades.
Eu e Richard seguíamos gravando, mas sem publicar os episódios. Eu não tinha como editar por falta de um notebook, e o combinado, de forma informal, era que eu assumiria essa parte. E assim foi.
Eis que, no Marrocos, minha mãe vem me visitar e aproveitamos para viajar pelo país. Nessa visita, ela me traz o tão esperado notebook. E assim, começam as edições, com muita dificuldade e esmero.
O programa foi ao ar! Exatamente no dia 15 de junho de 2019! Lembro até que tirei foto da tela do notebook. Estava em um hostel no Marrocos, numa cidade pacata e fora do radar turístico.
Agora, com o podcast oficialmente no ar, eu seguia a viagem e vislumbrava todo o feito em torno do projeto. Eu estava vendo sentido naquilo. Gostava de fazer, e conciliava o lado jornalístico, os estudos que tive em radialismo, e talvez uma dose de artes cênicas, com meu background de ator.
O programa continuou, e entre as melhorias, logo viria a obtenção de um gravador profissional que meus pais enviaram para mim. Seria simples, não fossem os países de destino. Mas, por sorte, um amigo dos meus pais, vinculado ao exército, iria atuar no Senegal. Então, alinhamos para que ele levasse o equipamento e eu fosse de encontro a ele. Assim feito, Cainã dava um grande salto na qualidade do áudio.
O podcast seguia sua trajetória, até que veio a pandemia. E aí, muita coisa aconteceu. Deixarei para o Ato 2, onde falarei mais sobre o retorno ao Brasil, como isso impactou o programa, o surgimento da comunidade, o início das parcerias e a presença do Guto com suas artes.
Cainã, que história legal. Eu não fazia ideia de como as coisas tinham começado assim. Quanto improviso e criatividade pra levar a coisa adiante apesar dos perrengues. E as fotos, então! Fiquei com gostinho de quero mais.
Mesmo sabendo de alguns detalhes dos bastidores do Mochileiros Sem Pauta (eterno), ver essa news com as fotos foi surpreendente. Não lembrava que cê editava pelo celular e dei risada com você dormindo no banco, tem coisas que não mudam hahahah
E ai fica o lembrete: "a gente relembra com gosto de que foi possível e lá e fez." Se lembrar da gente e do quanto somos capazes é tão bom!