[Viajante sem pauta #09]O que vivi no Malawi
Trazendo um lado pessoal do meu tempo no país
Hoje a newsletter tem um tom mais pessoal com alguns dos registros que fiz no país. Malawi, é um destino muito pouco conhecido pelos brasileiros, mas que pode surpreender de várias maneiras quem o visita. Comigo não seria diferente.
Malawi geralmente é visto como um ponto de passagem para os viajantes que percorrem o continente. Das pessoas com quem esbarrei, nenhum tinha inicialmente o objetivo de visitar o país como um destino turístico. No entanto, Malawi conquistam à medida que se aprende mais sobre ele. Não é difícil ouvir dos viajantes o quanto esse destino marca na memória de quem o visita.
No programa, comentei sobre como Malawi surgiu em meu caminho. Conheci um casal espanhol durante um projeto no Zimbábue, e eles destacaram o quão incrível foi sua experiência lá. Entre os aspectos que mencionaram, o acolhimento e as relações interpessoais foram especialmente marcantes.
Passei um total de 90 dias no país, explorando tanto o sul quanto o norte. O norte, em particular, é conhecido pelo turismo em torno do lago.
⚡ Ausencia de eletricidade
Na conversa do episódio, demos uma certa atenção de como a questão de eletricidade impacta na percpeção do viajante. E isso faz com que coisas rotineiras tenho um certo “charme” no olhar de fora. Claro, não estou romantizando que a falta de um acesso básico deveria ser visto como belo, mas essa falta de rede eletrica faz com que o país tenha suas identidades.
A começar pelo “charge man” ou na tradução, o homem que carrega. Nas zonas afastadas principalmente. Trata-se de uma pequena casa onde alguem detêm de um painel solar, mas principalmente as baterias onde pode se armazenar elas. E o que me fascinava era a quantidade de cabos e celulares, e o aspecto visual que aquilo passava. Outra coisa também era os própios adpatores feitos artesanalmente.
O que me fascinava nessas "casas do carregador" era como elas se transformavam em centros de atividade vibrantes simplesmente por oferecerem um serviço tão básico quanto carregar celulares. Se alguém decidisse abrir uma dessas casas, tenho certeza de que atrairia um novo fluxo de pessoas. Isso me intrigava profundamente.
Outro aspecto que destacava como a eletricidade molda a vida no país era o Kidu Cinema em Nkhata Bay. O nome "Kidu" não só era o do homem que gerenciava o espaço, mas também um apaixonado pela sétima arte.
Eu e Kidu nos aproximamos quando mencionei que tinha mais de 300 filmes em alta resolução em meu HD, e que poderia compartilhá-los com ele. Foi assim que começamos uma amizade que durou pelos meses em que fiquei naquela cidade.
Claro, o Kidu Cinema não só exibia filmes, mas também transmitia jogos. Afinal, o futebol é um grande atrativo em quase todo o mundo e também gerava bons lucros por lá. Não era incomum ouvir gritos não só de gol, mas também quando a eletricidade decidia nos deixar na mão, haha. Por duas vezes fui ao cinema e precisei assistir aos filmes "parceladamente
📚 Será que o livro sai?
Quem troca figurinha comigo sabe, eu tenho uma relação de amor e odio com minha escrita em relação ao livro que escrevo. Não é nada fácil o processo; escreve, reescreve, apaga, deixa de molho,matura as ideias e fica numa constante mudança.Nunca estará no ponto. Os tantos dilemas de escrever um livro de viagem fazem com que eu procrastine. Tenho meus altos e baixos. Hoje já são umas 110 paginas de word. Ah, mas porque eu trouxe a questão do livro. Pois Malawi é um destino de tantas histórias e narrativas, que queria trazer muito por breve alguns deles.
🥩 O abatedor
Quando fiz intercâmbio na África do Sul, tive meu primeiro contato próximo com o Islamismo. Dediquei-me aos estudos por meses, frequentando mesquitas, convivendo com os muçulmanos locais e mergulhando de cabeça na cultura. Meus amigos sauditas, que estudavam inglês no país, foram fundamentais para esclarecer minhas dúvidas e compartilhar suas experiências. Entre eles, Armed, meu primeiro amigo na época, filho de pais tapeceiros da Arábia Saudita, me disse um dia:
"Cainã, meu primo está vindo para cá e vou te trazer o melhor tapete de oração que puder encontrar para você."
E assim ele fez.
Embora não seja um especialista em têxteis, reconheçia a qualidade naquele tapete que me acompanhou por longos meses, atravessando Zimbábue, Zâmbia e finalmente Malawi. Ele esteve ao meu lado nos momentos de oração e reflexão, conectando-me com minhas crenças.
Foi em uma dessas cidades que conheci Jomar. Descobri que ele era o único na região com permissão para abater animais de acordo com o ritual Halal. Nos aproximamos rapidamente, pois éramos poucos muçulmanos na área, e queria saber mais sobre o método Halal.
Antes de partir, decidi presentear Jomar com o tapete que me fora dado. Sua expressão de felicidade ao receber foi indescritível. Um tapete desse tipo era raro e quase impossível de encontrar, tornando o momento ainda mais especial e memorável para mim.
🎱 O vício da criançada
Outro aspecto que me fascinou no Malawi, especialmente na região onde eu estava, era a paixão das crianças pela sinuca. Sim, você leu certo. Não sei se isso é uma prática comum em todo o país ou se era algo específico da minha localidade, mas foi uma experiência marcante que certamente estará em um dos capítulos do meu livro.
A idade dos jogadores variava entre 6 e 15 anos. Para participar, era necessário apostar algo, desde as menores notas do país até balas, guloseimas e outros itens similares. O que tornava tudo ainda mais especial era o fato de que as mesas eram feitas à mão pelos próprios jovens, utilizando materiais locais na construção, e os tacos eram feitos de bambu, cada um com seus adereços e características únicas. Alguns tinham figurinhas coladas, enquanto outros eram habilmente entalhados à mão com canivetes. E as bolas, era algum fruto esférico do qual não me recordo.
🗣️ Atenção para o episódio 100 do podcast!
Pensei em como seria o programa indo para as três digitos. E será com vocês! Quem melhor pra conversar e ter essa troca do que a comunidade. Saber do ep que marcaram vocês, melhores momento do programa entre tantas outras coisas. Inclusive, se você que está lendo e não faz parte da comunidade, ta esperando o que? fica postergando né? haha. Assine aqui, e você apoia o podcast a manter no ar, e ainda faz parte do melhor grupo de viagens!
Mas voltando, eu vou avisar no email quando será essa gravação. Das poucas certezas que tenho, uma delas é que será no final de semana no horário da manhã, fuso br. Então se quiser fazer parte desse momento, é só aparecer!
Abaixo, o registro do encontro da roda do livro e o tradcional
🎙️ O episódio
Eu poderia ficar horas escrevendo tantas coisas do Malawi, mas isso ficará para o livro ou uma outra newsletter. Inclusive, sobre a arte do programa do Malawi, explicando o porquê: o peixe representando é o kapenta, como se fosse uma sardinha. Faz parte da refeição diária de muitas famílias. E a bike, é porque é o principal meio de locomoção de muitos, e a presença dela é marcante para quem viaja. Tanto que é comum ver os “bike taxi”.
🎒 Achados da mochila
As recomendações que a bancada fizeram ao final do programa.
📚 Eu destilo melanina e mel - autora Malawiana
🎥 Filme: “Gabriel e a montanha”
E pra finalizar essa newsletter, meu muito obrigado a todos que leram até aqui! Gosto muito da escrita, e a forma de comunicar também. Não é um espaço pra ter uma licença poética, mas me deleito em ter essa troca pelas palavras. Inclusive, se você tem gostado da newsletter, seja ela momentos mais informativos, ou pessoais, gostaria de saber o que tem achado. Escreve nos comentários que ficarei feliz de ler e poder responde-la também. Beijo a todos e fiquem bem!