Entre tantas gravações do podcast, nenhum se equipará ao episódio do retorno das viagens.O motivo? Os gatilhos e os sentimentos que vieram a tona depois. Já tive a gravação com minha mãe que me envolveu numa ansiedade por razões pessoais, mas nada comparado a este último programa.
Eu projetava que falar sobre a volta seria desafiador. Até porque é dar aquele mergulho no âmago sobre nós mesmos. Que deixamos de lado, seja como proteção ou porque na correria do cotidiano, não existe um espaço para esse olhar introspectivo. Agora, quando se têm uma gravação de 3 horas, mais a edição - doloroso foi se reescutar nessa gravação.
Assim que publiquei o programa, optei por ficar em silêncio. Não estava disposto a conversar com ninguém. Será que, no fundo, ainda estou em luto? Talvez ainda esteja buscando aquela minha "versão africana" que tanto admirei. Caro leitor, não sei como você se sente, mas para mim, esse episódio foi doloroso de uma forma que talvez não seja evidente. Durante a gravação, estou completamente imerso no papel de comunicador. Muitas coisas acontecem ao mesmo tempo: verificar o áudio, mesmo tendo falhado neste rs conduzir a conversa, controlar o tempo. No entanto, é quando o botão de pausa é pressionado que o processo de digerir tudo realmente começa.
Não sei como o programa vai ressoar com vocês, mas espero que ele ofereça uma oportunidade de reflexão.
Mas, há um lado positivo nisso tudo: a oportunidade de gravar presencialmente com meus amigos Lanna e Savietto, e com Willy à distância. A presença deles me impulsionou a avançar em meus conhecimentos técnicos. No futuro, desejo montar um "setup" que me permita gravar na estrada com pessoas presenciais e outras remotamente ao mesmo tempo. Afinal, uma gravação cara a cara sempre terá seu valor especial.
Gravação do 100° episódio!
Fiquei um tempo pensando em como celebrar a marca dos três dígitos. Considerei várias ideias e cheguei à conclusão de que o melhor seria um bate-papo informal, sem pauta, para relembrar os momentos marcantes do podcast até agora. No entanto, essa conversa será com a comunidade, ou seja, com os apoiadores do programa. Se cheguei até aqui, uma grande parte disso se deve a eles, que, além de ouvirem, acreditam e contribuem para que o "Viajante sem Pauta" continue existindo.
🎙️ Quando e como vai funcionar?
O encontro será entre os apoiadores, se quiser fazer parte desse momento da gravação, alêm do acesso ao grupo secreto, só assinar aqui.
📆 Sábado dia 10 de Agosto
⏰ 9:30 horário de Brasiília
O link da chamada enviarei no telegram, no email e também no close friends.
📕 15° Roda do livro
Caso seja sua primeira vez aqui, nós do podcast temos um clube do livro. Pra saber mais sobre, basta clicar aqui
Nessa edição vamos ler a famosa obra de Shackleton. Se quiser ingressar conosco, só entrar no grupo do whatsapp, e lá na bio você terá mais informações. O dia do bate papo para trocarmos nossas percepções sobre a obra será:
📆 Domingo, 8 de Setembro
⏰ 10:30 horário de Brasiília
🏡 4°Encontro do podcast
Quero aproveitar e lembrar a todos que em novembro teremos no nosso tradicional encontro da comunidade! Ainda resta uma vaga pra dormir na casa!E essa edição teremos bingo! Sim, eu me empolgo com isso haha
📆 21 a 24 de Novembro
📍 Serra da Cantareira / 30 min metro Tucuruvi
Grupo do WhatsApp para infos, valores e outros. Somente membros da comunidade.
🇧🇷 O costa-marfinês mais brasileiro que muitos
Antes de me despedir, gostaria de compartilhar brevemente a história de uma das muitas figuras africanas que cruzaram meu caminho e tiveram um impacto significativo em minha jornada.
Durante o auge da pandemia, eu estava preso na Costa do Marfim, com as fronteiras e o espaço aéreo fechados. Não entrarei em detalhes aqui, pois há um episódio no podcast que descreve toda a experiência.
Seu sotaque português era tão acolhedor quanto o de um mineiro nato — talvez até mais. Para alguém de cargo diplomático, eu esperaria robustez nas feições, uma postura firme e uma vestimenta elegante, esse último cumpria com exímio. Seu nome era Sila, um funcionário da embaixada do Brasil na Costa do Marfim, que assumiu a responsabilidade por enfrentar os desafios impostos pela pandemia, consequentemente “cuidar” de minha pessoa e os outros amigos brasileiros.
Sila era um amante de uma boa dose de cachaça e falava com deleite e carinho sobre as visitas que tinha feito ao Brasil. Minas Gerais era seu estado favorito. E, para minha surpresa, ele conhecia a seleção brasileira de cor, mas nada se compara a ser torcedor do Santos.
Durante os meses em que estive confinado no país, sem saber se haveria um voo de repatriação e imerso nas incertezas que o mundo vivia, Sila foi a pessoa à qual me apeguei, quase como uma figura paterna. Nas horas de desespero, sua voz contagiante e alegre era um verdadeiro alívio, uma dose de endorfina em meio ao caos. Talvez seu timbre mascarasse as verdadeiras dificuldades que ocorriam entre as paredes diplomáticas, mas ele, como um pai cuidadoso, fazia o possível para me acalmar. E ele realmente conseguiu.
Quando me visitava no "motel" — sim, passei um tempo alojado em um motel enquanto aguardava notícias sobre a repatriação, algo que deixarei para uma próxima ocasião —, sua presença tinha um envolto que me recaia em segurança, conforto, e principalmente, uma amizade que criou-se num curto prazo. Relação essa em um dos momentos mais vulneráveis que já vivi.
Nunca contei ao Sila, mas quando ele me ligava para saber como eu estava e se precisava de algo, eu chorava. As lágrimas apareciam porque, naquele país, ele era a única pessoa em quem eu tinha apoio. Sila, além de sua função diplomática, avô de muitos e esposo, ainda encontrava um espaço especial para Cainã.
Finalmente, o voo foi confirmado. Iríamos até a fronteira juntos: eu, Sila e o motorista. O clima era tenso, pois eu não sabia se conseguiria cruzar a fronteira para Gana e, assim, retornar ao Brasil. Sila estava sempre ao meu lado, conduzindo com maestria todos os desafios diplomáticos que surgiam. Não havia espaço para o emocional; em meio à pandemia, cada movimento precisava ser calculado friamente. Qualquer deslize poderia comprometer a travessia para o país vizinho, de onde meu voo sairia.
Hoje, Sila não está mais entre nós. Quando soube de sua partida, a dor me envolveu profundamente. Nunca pude dar aquele abraço que tanto desejava, pois as restrições sanitárias não permitiam, especialmente com a presença de várias autoridades na fronteira.
Quis compartilhar brevemente sobre o Sila porque ele desempenhou um papel crucial no meu conturbado retorno. Sua figura é uma parte importante da narrativa que estou escrevendo no meu livro. Sila é a pessoa que representa a Costa do Marfim na minha aventura.
Obrigado Sila. De um amigo que não pode se despedir como queria.
Me emocionei com o teu relato sobre o Sila. Que bonito!